Noite destas, viajando por aí entre uma live e outra, dei de cara com uma rápida conversa sobre as desigualdades raciais e sociais do Brasil. A fala de Jaqueline Conceição, da Casa do Saber, se ancorava no livro de Lélia Gonzales sobre o racismo. Já li algumas dezenas de artigos sobre isso, mas nunca havia me deparado com esse tema visto pelo olhar do psicanalista francês Jacques Lacan. Seria o racismo uma neurose brasileira?
Se por um lado o menino branco brasileiro não pode desejar a mãe negra que cuidou dele porque socialmente não é aceita, pelo outro também não pode desejar a mulher negra porque o Brasil não permite essa construção amorosa, a não ser em sua forma discriminatória e violenta. Trata-se de um desejo duplamente proibido.
Mas o estrago não para aí. Para o negro o racismo lhe reserva o papel de subalterno enquanto para o branco ele intensifica a subjetividade narcísica, dando-lhe falsa noção de poder que o faz sentir o gozo da opressão e da segregação. Daí a neurose enraizada nesta relação de poder.
Fiquei com uma vontade danada de ler o livro de Lélia e aprendi mais uma com Lacan: o racismo é uma patologia!